Entrei na Fonte Nova, eram decorridos 15 minutos do 1ª tempo, quando me lembrei que tinha esquecido o fogo ligado. Se existisse celular na época era só ligar para minha irmã. Sem celular, como não sabia exatamente se minha irmã chegaria em casa cedo, voltei para casa. Toa a panela tinha virado alguma coisa que não parecia mais nada. Pelo menos não ocorreram maiores estragos que uma panela queimada. Voltei para Fonte e consegui entrar para ver o segundo tempo de jogo. Sentei ao lado de um senhor que parecia alguém conhecido. Estranhei a semelhança do velho com a do meu avô. Ele me falava do jogo que começara e que eu não vi. Era um senhor gentil e educado, um típico torcedor do Esquadrão, admirador dos tempos do Esquadrão de Aço. Ele me falou que Osny e Gilson Gênio infernizavam a defesa rubro-negra, era uma questão agora de apostar quem faria mais gols, Gilson Genio ou Osny?
Não passou muito tempo, a questão voltou com toda a força: quem faria mais gols no rubro negro? Seria Bobô ou Zé Carlos? Assim, com esse espirito eu cresci, uma mística que fazia nada mais fazer sentido a não ser o Bahia e a espera por goleadas e goleadores surgirem, como: Cláudio Adão, Dadá Maravilha e um gênio do jeito baiano de encarar a vida encarnado em Beijoca. Outros goleadores tivemos, esses foram o que mais marcaram as décadas de 70 e 80. Mas, outra vez, no inicio do jogo, ao entrar na Fonte, lembrei que tinha esquecido o fogo ligado. Dessa vez, eu saí do estádio e liguei de um orelhão para minha namorada apagar o fogo do fogão. Ela imaginava que eu estaria dentro do campo com o irmão dela, mas ela pensou que eu estava era fazendo uma brincadeira com conotações sexuais e disse para eu parar de ser "discarado". Bateu o telefone na minha cara! Só me restou ir em casa desligar o fogão. O Bahia, soube, já ganhava de 2 x 0. Voltei pro jogo e ainda deu para tirar um sarro com a torcida rubro-negra, ganhamos de 4 x 0.
Eu não sei qual a relação entre deixar o fogão ligado para comer algo e ver um jogo do Bahia. Mas, parece que tinha um lado de encher a barriga em casa, enquanto na Fonte Nova era a alma que ficava cheia. Incrivelmente, mais que ontem, quando vivia em fartura, hoje sei o quanto é importante encher a alma, e será esse domingo que minha alma migrará para a Bahia para torcer e minha alma se empanturrar da Arena Fonte Nova. Independentemente de ganhar o jogo, será a restauração a partir do dia 7 de abril do maior orgulho do baiano e do tricolor, a Fonte Nova reconstruída. Um templo de gigantes, batalhas inesquecíveis e tristezas também, mas acima de tudo a nova Arena Fonte Nova deve ser um marco civilizado de ver o futebol como impulso para novas realizações no campo da educação. Na educação porque o futebol é o maior definidor de valores sobre a importância do grupo e do trabalho em equipe, o respeito mútuo e a esperança de ascensão social pela arte de jogar futebol.
Eu quero ver a Fonte Nova lotada. O Sportv amanhã transmitirá o jogo para Recife, e a torcida aqui balança é para o Bahia! Certamente, colocarei o meu almoço para esquentar na hora do jogo como lembrança dos velhos tempos que não morrem, mas engordam a alma de alegrias e novas emoções. Oxalá queira que o 1ª gol do jogo e o triunfo sejam tricolores, assim como o segundo gol e a derrota sejam rubro-negras. Esta é a beleza da rivalidade, assim como o rival deverá fazer de tudo para vencer e escrever uma nova historia na Fonte. Mas, amanhã quem for com fé se dará melhor, afinal clássico é clássico e de primeira!
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