«Há exatamente 12 meses, estimulado pelo presidente Marcelo Guimarães Filho, iniciamos as nossas primeiras conversas para pôr fim aos embates entre os grupos de situação e oposição no Esporte Clube Bahia. Contra os meus amigos céticos, acreditei realmente que poderíamos estabelecer um diálogo em prol da reconstrução do nosso Bahia. Convenci-os de que era importante estabelecermos uma trégua. Em contrapartida, pedimos apenas a mudança dos estatutos e o estabelecimento de eleições livres e democráticas no clube.
Assim o fizemos, crentes que construiríamos um novo projeto para o tricolor. Defendi, sem receios, as nossas ideias comuns de que era importante que um candidato a presidente do Bahia participasse da vida do clube, como sócio e também conselheiro, para que um “paraquedista” ou um “messias” qualquer não caísse dos céus, embora a lista dos nossos últimos ex-presidentes não seja nada exemplar.
Contrariando toda a lógica das várias reuniões que tivemos, eis que é apresentada na reunião do conselho uma proposta de estatuto que nunca havíamos deliberado, engavetando o texto produzido pelo advogado Welington Cerqueira. Em total confiança, ainda sem saber do ardil, pedi, durante a reunião, que o texto fosse aprovado sob aclamação.
Para minha surpresa, ao voltar para a casa, ouvi, em uma emissora de rádio, o presidente do conselho falar sobre um texto que nunca fora sequer cogitado.
Apesar desse claro sinal de desrespeito, insistimos no diálogo. Realizamos uma dezena de novas reuniões, em que Marcelo Guimarães Filho concordou que a proposta do estatuto era antidemocrática, pois estabelecia que apenas duas chapas poderiam ser indicadas pelo conselho deliberativo. Ou seja: apenas o grupo que domina o Bahia há décadas teria chance de vencer a disputa, já que domina, de forma ilegal, 80% dos assentos desse pré-colégio eleitoral.
Negociamos e chegamos a um consenso de que o candidato que tivesse, no mínimo, 10% das indicações dos conselheiros, poderia se candidatar à presidência do ECB. Manteríamos o filtro eleitoral, mas democratizaríamos, de fato, a gestão tricolor.
Desde então, o assunto foi “esquecido”. Primeiro sob a alegação de que um tema era mais urgente: a atropelada e açodada desapropriação da sede da Boca do Rio. Apesar disso, naquele instante, ele assumiu publicamente o compromisso de convocar a assembléia geral para discutir a mudança dos estatutos.
Depois, veio a conversa de que o clube atravessava uma má fase na Série B, com chances de cair para a Série C.
Estamos quase findando o primeiro mês de 2010 e nenhuma palavra oficial sobre a questão.
Em entrevistas, o presidente diz que se a assembleia geral não ratificar o estatuto que quer nos impor, ficaremos paralisados, regidos pelo documento antigo.
Somos sonhadores, mas não tolos. A assembleia geral tem o poder não só de denegar, mas também de modificar o que está sendo proposto. Ela é soberana, a instância máxima de uma instituição que se recusa a ter dono.
Mas não venho dar lições de como devem funcionar as instituições democráticas.
Não vou aqui citar os nomes de pessoas que intercederam pela atual gestão nem as contribuições que fizemos para ajudar a soerguer o velho Bahia, patrimônio do povo da Bahia.
Não vou chorar mágoas nem falar de arrependimentos.
Faria tudo de novo, com o mesmo entusiasmo, com a certeza de que o Bahia merece o melhor de cada um de nós, porque ele mesmo está acima de nós, da nossa razão, da nossa vontade.
A minha profunda decepção e a minha grande tristeza decorrem do fato de Marcelo Guimarães Filho estar jogando fora a chance histórica de tirar o nosso grande Bahia dessa rota medonha de derrotas e fracassos. E a história costuma ser cruel com todos aqueles que a negam. Apesar do desalento em constatar que nada mudou na administração do Esporte Clube Bahia, vou continuar lutando, com todo o meu esforço e o dos meus companheiros, para a reconstrução do nosso outrora tão grande clube.
Fernado Jorge Carneiro»
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