terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Vitória pagava 5 treinadores de uma só vez! Diz Viana

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Ex-presidente do Vitória, Raimundo Viana encontrou o Vitória na Serie B, deixou na Série A. Em 5ª lugar no Campeonato, saiu com o Leão Campeão baiano. É verdade, pecou quando não trabalhou para a reforma do estatuto de modo que permitisse as eleições diretas no clube. Prometeu um Vitória forte e competitivo na Série A, mas sofreu todo o torneio e só escapou do rebaixamento nas ultimas rodadas. Assumiu o Vitória sob o signo do atraso e sofreu profundas restrições da própria torcida rubro-negra. Mas sem dúvida entregou o clube ao novo presidente, Ivã de Almeida, em melhores condições que recebeu de Carlos Falcão.

Nesta terça-feira, o ex-presidente foi alvo de entrevista pelo jornalista Glauber Guerra, veiculada no site Bahia Noticias, onde avalia sua gestão como positiva e afirma encontrou o clube em crise em diversos setores. Sem dinheiro para contratar, sem dinheiro para dispensar e até troféus dentro de lata de lixo, além disso, recebeu o Vitória com débitos com Ney Franco, Jorginho, Ricardo Drubscky, Claudinei Oliveira e Vagner Mancini. “A gente pagava cinco treinadores de uma só vez, disse o presidente.

Questionado qual seu pecado, não pensou duas vezes: manter a diretoria ainda de Carlos Falcão: “Fui traído” mas já fui na Igreja do Bonfim, na Igreja do Vitória e esse pecado já foi pago, brinca Raimundo Viana.

Veja a entrevista.

Como você avalia sua gestão?
Peguei o Vitória em uma crise muito grande, afetando todos os setores. E uma coisa que me chamou a atenção foi desesperança da torcida. O descrédito era total. Saímos do estadual de forma grosseira. Ficamos de fora da Copa do Nordeste. Nosso grupo estava muito abalado, os jogadores entristecidos... Um quadro realmente muito ruim. A pessoa do presidente passou a ser objeto de profundas restrições. Ninguém acredita que eu poderia fazer alguma coisa de positivo para o clube. Não tínhamos recurso para contratar e não tínhamos recurso para dispensar. Tivemos que remover a comissão técnica, na época dirigida por Claudinei Oliveira, que é um grande profissional, que também estava sendo vítima do estrago. Deus esteve do meu lado e as coisas foram se encaixando. Veio o Vagner Mancini junto com o Régis Angeli [auxiliar técnico]. O grupo foi se juntando, foi se arrumando... A gente recuperou o aspecto psicológico do Rhayner, porque futebol ele sempre soube jogar, mas o desânimo era total. Recuperamos a autoestima do Vander e do Elton. Aí tivemos que nos desfazer de Wilson e aí apareceram Gatito, Fernando Miguel, Caíque... Terminamos o primeiro turno da Série B em primeiro lugar. Aí Escudero voltou a jogar bem. Contratamos Diogo Mateus, Diego Renan e Pedro Ken. E conquistamos o acesso para a Série A. E quando assumimos muita gente nós éramos um forte candidato para a Série C. O Vitória só tinha um campo de treinamento funcionando. Trocamos o gramado de três campos no CT Manoel Pontes Tanajura, um com grama sintética. E mais três campos na parte de cima do CT. A drenagem em dois campos de treinamentos é de primeiro mundo. Refizemos toda a base de passagem de água e eletricidade. Compramos um placar eletrônico, que era alugado e de péssima resolução. Na base, fizemos intervenções importantes na estrutura como nos dormitórios e refeitórios. No profissional compramos jogadores como Kieza, Marinho e Willian Farias com contratos longos. Conseguimos ficar na Série A pelo segundo ano consecutivo. Conquistamos o Campeonato Baiano. Fizemos também a parceria com a Universo para a disputa do NBB. Quando chegamos tínhamos perdidos até a hegemonia no remo e hoje somos bicampeões baianos. Considero minha gestão como positiva. Tivemos alguns erros. Algumas coisas não saíram como o planejado. Mas saí do Vitória de cabeça erguida.

Como estava a situação financeira do clube quando você assumiu?

Uma lástima. Não tinha um Real em caixa.

Tinha muitas dívidas?
Muitas... Tinha dívidas com Beltrán, o paraguaio que não deu um chute na bola. Tinha Richarlyson, Hugo e Juan. Com Juan a dívida era de quase R$ 4 milhões. E Manoel Matos conseguiu fazer um acordo em R$ 1 milhão. A gente pagava ainda o Ney Franco, Jorginho, Ricardo Drubscky, Claudinei Oliveira e Vagner Mancini, que era o nosso técnico. A gente pagava cinco treinadores de uma só vez.

Qual foi o seu principal pecado à frente do clube?
Manter a diretoria do Falcão. Mantive boa parte e depois fui traído. Foi um dos meus pecados, mas já paguei. Fui na Igreja do Bonfim, na Igreja do Vitória e esse pecado já foi pago.

Falcão tentou se intrometer na sua gestão?
Ele tinha uma coisa raivosa com Hildebrando Maia [ex-vice presidente de patrimônio], que era seu diretor. Inclusive ele não integrou minha diretoria. Mas ele ficou colaborando. Ele não tinha cargo, mas encargos. Você dava missões a ele. Eu não poderia abrir mão da ajuda dele. E Falcão queria a cabeça dele de qualquer jeito. E acho uma coisa detestável quem fala “ou eu ou ele”. Se disser isso para mim eu fico contra quem falou isso. Houve uma tentativa de fazer o presidente de refém. E eu não posso ser refém de ninguém. Aí falavam que fulano estava mandando muito. Se tá mandando e tá dando certo, deixa ele mandar. Não pode é ficar contra a instituição por causa de vaidade e torcer pelo insucesso. Tem que respeitar a instituição. Eu não torço para presidente. Eu torço é pelo Vitória.

Qual a sua opinião sobre Ivã de Almeida, novo presidente do Vitória?
É uma pessoa que me trata com muita cortesia ao longo do tempo. Vou torcer pelo sucesso dele e muito. Pois o sucesso dele é o sucesso do Vitória. Mesmo que eu tivesse alguma desavença com Ivã, jamais torceria contra para que o Vitória se desse mal e desprestigiasse o presidente. E comigo isso houve. Muitos torceram pelo insucesso do time para inviabilizar a candidatura da nossa chapa. Mas eles se deram mal. O Vitória hoje está livre de encostos.

Sua gestão deixou dinheiro em caixa?
Deixei uns trocadinhos aí. O Vitória está sanado. Todos os compromissos foram honrados, pouco importa quem foi o presidente. Honramos todas as dívidas. Entregamos o clube organizado.

O senhor pretende ser candidato em 2019?
O futuro a Deus pertence. Essa frase é batida, mas é real. Já fui presidente do clube, presidente do Conselho Deliberativo, diretor jurídico, vice-presidente e sou fanático torcedor. Sempre disse que não procuro cargo. Não sou contra renumeração de dirigente. Sou a favor da profissionalização. Se eu estivesse no cargo e isso entrasse em vigor, eu não receberia nada. Iria construir uma igreja com o dinheiro. O presidente tem direito a cartão corporativo e eu nunca usei. Aliás, usei. Apenas uma vez para comprar uma peça de computador do clube. Sou conselheiro nato e pago o Sou Mais Vitória. Está em dia. É uma forma de contribuir com o clube que amo. Nunca usei o clube para benefício próprio.

Mas o senhor pretende participar ativamente da vida política do clube, já que é conselheiro nato?

Darei minha opinião se o Ivã de Almeida ou alguém da diretoria me pedir. E a opinião será dada reservadamente e nunca pela imprensa. Feliz daquele dirigente que compreender que o seu tempo passou. Passou como dirigente. Não como torcedor e cidadão. A melhor ajuda é quem não atrapalha. Tenho como dever não atrapalhar e segundo procurar ajudar quando for solicitado.

É verdade que o senhor encontrou alguns troféus do Vitória em situação de armazenamento imprópria?
Tinha troféu jogado com sucata. No lixo... Uma coisa terrível. Tinha um amontado com garrafa quebrada pelo meio. Tinha troféu até do tempo de Arthêmio Valente [um dos fundadores do clube e primeiro presidente]. Colocamos tudo em um local apropriado e catalogamos todos os troféus por meio de fotografia. A ideia era fazer um livro, mas não tivemos tempo.

O que você acha dos atletas que tiram a camisa nas comemorações? Você já chegou a orientar os jogadores do Vitória em alguma coisa neste sentido?
Sou totalmente favorável pelo cara que fez gol tirar a camisa... Aquilo é o ponto alto do futebol. Meus jogadores quando faziam o gol eu pedia para subir na trave, tirar a camisa e até a cueca. Se tiver amarelo ou pendurado, aí não. Mas se não tiver pode comemorar do jeito que quiser. Acho um absurdo punir com o cartão amarelo. Outra coisa que não gosto é a punição com portões fechados. Quem fez essa norma deveria ser preso.

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