Leia poema de Florisvaldo Mattos
ANTENAS DE DOR E AFLIÇÃO / Florisvaldo Mattos
I
Na barbearia, um monte de pessoas/
gargareja os milagres da pelota./
Buenos Aires, miragem que se perde/
em distância de sonhos e aflições,/
que todos nós sabíamos como era/
o coração saindo pela boca:/
Oh! De la Mata, Méndez, Perdenera,/
magos Labruna e Félice Lostau,/
a bola obediente, indo de pé em pé/
de uma linha-de-frente arrasadora./
Tesourinha, Zizinho, Heleno, Jair,/
Chico, legenda de ídolos caídos,/
sobre gramado de ódios eu renasço;/
glórias também se medem por
soluços.
II
A tarde quebra o som do alegre rádio./
Vieram eles, os homens da Celeste,/
ávidos, jogando pela direita./
Perdendo o jogo, a alma não perdemos./
Por que, pobres mortais, ceder a esses/
tristes ódios que o lúdico nos dá?/
Depois se vê, por todos os ditames,/
a quem pertencerá a última palavra./
Todo o silêncio e lágrimas se irão,/
mares maiores e o ar atravessando,/
a luta corporal segue seu rumo,/
com céus e gente, hoje e amanhã, sabendo/ que há também um deus sul-americano./
Os carrascos se foram, e o sol brilha.
(*) Florisvaldo Mattos é autor de sete livros de poesia e três de ensaios
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