sábado, 15 de março de 2014

Franciel Cruz: Jabá e homossexualidade‏

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Há coisa de 10 anos, mais exatamente em julho de 2004, a Revista Placar publicou uma reportagem intitulada “Nas ondas (poluídas) da rádio”. Na matéria, assinada por Manuela Martinez, havia a denúncia de que os dois principais times do estado, Bahia e Vitória, bancavam do próprio bolso cinco equipes de rádio de Salvador.

A repórter informava que o Esporte Clube Vitória, único representante na Série A daquele ano, gastava 4% de todo o seu orçamento, cerca de R$ 500 mil reais, com as referidas emissoras. Questionado sobre o problema, o então presidente do Clube, Paulo Carneiro, fez a seguinte confissão. “Este ano quisemos moralizar o processo e passamos a exigir também a contrapartida (…) Veiculamos a nossa campanha institucional nas rádios. Em troca eles recebem uma ajuda de custo para passagem e hospedagem dos jogos do Vitória fora de salvador”.

Passou-se uma década e o atual presidente do Esporte Clube Vitória, Carlos Falcão, em entrevista publicada nesta terça-feira, dia 11, no Globo Esporte, disse que “O Vitória não tem o que divulgar, porque o Vitória não paga (jabá). Nós temos uma relação muito transparente. O Vitória tem um conselho fiscal atuante, uma auditoria interna e externa… O Vitória não tem nada a esconder”. 

Porém, mesmo não tendo nada a esconder, o presidente do Vitória não falou sobre os tais contratos relatados por Paulo Carneiro que, segundo a repórter da Placar, foi assinado “para tentar dar ares de transparência ao negócio”. O irônico da história é que, em 2004, não há nenhuma aspas na reportagem da Revista Placar para o então presidente do Bahia, que na ocasião era comandado exatamente por Marcelo Guimarães, pai do último ex-presidente do Clube, Marcelo Guimarães Filho.

Porém, se a direção tricolor da época se calou, a atual resolveu botar o dedo na ferida. No dia 11 de fevereiro, o assessor especial da presidência, o marqueteiro Sidônio Palmeira, garantiu em entrevista a uma rádio local que “algumas pessoas da crônica recebiam dinheiro para falar bem do clube e cortamos todos. Essa diretoria acabou com o jabá”. E mais. No dia seguinte, em sua página do Facebook, a direção do Clube não só apoiou as declarações do assessor especial, como deu um passo adiante, informando que o material seria “apresentado na próxima reunião do Conselho Deliberativo para apreciação e o encaminhamento necessário”. 

Houve um constrangedor silêncio de tradicionais entidades de classe, como Associação Bahiana de Imprensa (ABI) e o Sindicato dos Jornalistas (Sinjorba). Apenas a Associação Baiana de Cronista Desportiva lançou uma nota pública estrilando. 

No entanto, na reunião do dia 22 de fevereiro do Conselho Deliberativo, véspera do clássico Ba x Vi, a direção do Bahia descumpriu a promessa, alegando que não tinha sido possível recolher “possível recolher todos os documentos necessários”. Contudo, diante do barulho feito por sócios, conselheiros e torcedores em geral, não havia mais como recuar. 

Assim, na noite de segunda-feira, dia 10, houve nova reunião do Conselho Deliberativo do Bahia, com a promessa de entrega no dia seguinte da lista com as “relações econômicas do Esporte Clube Bahia”. Lista é modo de dizer. Foi disponibilizado um calhamaço com cerca de 500 páginas, com as mais variadas situações. Na papelada existiam desde dinheiro para radialistas, benefícios para parentes e até gastos exorbitantes em churrascarias de Salvador, que chegaram a cinco dígitos.

Novamente, silêncio constrangedor das tradicionais entidades de classe, ABI e Sinjorba. Mais uma vez, só quem se pronunciou foi a ABCD. O problema é que o atual presidente da entidade é sócio da Sportgol Assessoria e MKT, empresa citada na lista como tendo recebido a maior quantia nos últimos três anos, cerca de R$ 250 mil

Quem tem feito um barulho bom é a torcida do Bahia, que de modo justo está indignada com os desmandos da gestão anterior. O problema é que na imprensa, nas ruas e até mesmo em uma parte da torcida tricolor, o destaque tem sido para as passagens e hospedagem da apresentadora da Rede Record, Jéssica Senra, nos hotéis Transamérica Prestige Beach Class Internacional, em Recife, e JW Marriott Hotel, no Rio de Janeiro, juntamente com o então presidente do Bahia. 

Lamentavelmente, invés de se preocupar com coisas sérias, como diria Caetano Veloso, “todo mundo quer saber com quem você se deita. Nada pode prosperar”. Ato contínuo, a apresentadora afirmou, não sem razão, que “as minhas questões particulares dizem respeito a mim”. Fato. Deve existir a presunção da inocência de Jéssica. Afinal, nem ela nem ninguém têm a obrigação de exigir de algum amigo, parente, colega, amante ou o diabo, que lhe informe a priori de onde vem o dinheiro que paga uma estadia num hotel ou uma passagem. É fato, porém, que há um gosto de sangue no ar. Revoltada, a torcida do Bahia, que viu seu clube perder jogadores até por falta de pagamento no FGTS, não se conforma que se gaste o dinheiro do Clube desta forma. E Jéssica deveria ter humildade de compreender isto – e não ficar debochando por aí, afirmando bobagens do tipo que quem quiser saber “me pague uma cerveja e a gente conversa”

Assunto encerrado.

Assunto encerrado, vírgula. O ex-presidente Marcelo Guimarães Filho, que foi deposto pela justiça e está no centro do furacão, à guisa de defesa, afirmou em entrevista publicada nesta quarta-feira, dia 12, no Correio*, que o atual presidente “Fernando Schmidt precisa assumir que é homossexual”. 

Oxente. Como assim, precisa assumir? O que tem a ver homossexualidade com o pagamento de jabás e outras relações escusas envolvendo o Bahia?

Pois bem digo, pois mal, estas infames tergiversações estão dominando o debate. Para se ter uma ideia, além de ter sido destaque no site Bahia Notícias, o de maior audiência do estado, estes dois casos também estão entre as cinco notícias mais lidas no correio 24h, veículo online do Correio*, jornal mais vendido da Bahia. Outro dado a se destacar é que o site Bocão News, de propriedade do sócio do presidente da ABCD, silenciou nos momentos iniciais das denúncias, mas nas últimas horas já publicou diversas matérias sobre nefastas e homofóbicas afirmações de Marcelo Guimarães Filho. (Alô, tergiversação!)

Está claro, portanto, que alguns querem transformar o que seria uma busca aos ratões em um triste Programa de Ratinho.

É preciso e urgente, neste momento, que os sócios, conselheiros e torcedores em geral puxem o freio de mão nesta chibança e mudem este tenebroso roteiro, retirando o debate da alcova e levando-o para o onde realmente interessa: a transparência nas contas dos clubes. 

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