Ano passado escrevi um texto em que expus uma situação que deixava claro o nível de promiscuidade da imprensa baiana. Aqui o Link. Naquela ocasião, o que mais me chamou a atenção foi a resposta que obtive do “jornalista” envolvido na história. Após ler meu texto, ele se mostrou absolutamente surpreso com o fato de eu o acusar de antiético. Para ele, aquela situação era totalmente “normal”. Ele acredita que o fato de ser corriqueira a promiscuidade da ação jornalística na imprensa esportiva baiana é suficiente para que ele fosse absolvido. Mas se algo está impregnado em determinado grupo social isso não o torna automaticamente moral. Se, por exemplo, em determinado grupo for habitual que seus membros roubem uns aos outros, isso não torna o roubo algo correto.
Pois bem, hoje me vi diante de mais uma situação parecida. Essa semana o Bahia divulgou um lista em que detalhava valores gastos com pessoas de fora do clube. Dentre eles surgiu um gasto de aproximadamente R$ 45.000,00 identificados pelo nome do “jornalista” Jailson Baraúna. Como, a principio, a lista não descreve a que se referem exatamente esses gastos, não há que se condenar os envolvidos sem que antes eles tenham direito de justificar o recebimento desses valores.
Dessa forma, hoje li a tentativa de justificativa do Baraúna. Ela alega que os valores são referentes ao pagamento de espaços publicitários utilizados pelo clube no seu programa de rádio. Assim, ele acredita estar totalmente amparado. Ele não parece não conseguir enxergar nenhum conflito ético. Mas eu não consigo imaginar como é possível manter a credibilidade, a busca da imparcialidade e o distanciamento, tão necessários ao bom exercício jornalístico, se o profissional de imprensa recebe diretamente pagamento de quem é objeto do seu trabalho. Com que autonomia um jornalista pode trabalhar, se parte de seus rendimentos é pago por um clube de futebol que é o ponto focal de seu trabalho? Com que distanciamento será possível fazer críticas a esse clube, sabendo que mensalmente irá receber valores desse mesmo clube? É estranho, também, que esse valor seja descrito nas planilhas nominalmente ao Baraúna. Não faria mais sentido se esse valor estivesse simplesmente associado nas planilhas do clube à gasto com publicidade?
Nesse caso, a coisa é ainda mais bizarra, pois como é praxe nos programas esportivos de rádios baianas, o espaço publicitário é pago diretamente à equipe esportiva. Ou seja, nesse caso, ele não é um funcionário que recebe um salário de um veiculo que por sua vez recebe os valores de publicidade. No caso em questão, os jornalistas são “donos” do espaço de publicitário por isso recebem diretamente esses valores.
Assim, mais uma vez fico triste em ver o nível rasteiro em que se encontra nossa imprensa. Esse “jornalista” acha que por ser comum, esse procedimento é correto. E eu não tenho medo algum em afirmar: isso não é correto. Isso é extremamente errado, do ponto de vista da ética, sobretudo da ética jornalística, que deve ser regida pelo principio básico da credibilidade, que deve ser assegurada pela autonomia.
O mais triste é perceber, mais uma vez, que esse não é um fato isolado. E isso faz com que parte da imprensa seja incapaz de simplesmente entender o buraco em que estão metidos e os poucos que conseguem perceber essa dimensão não tem coragem ou interesse em expor a situação. E tenho certeza que logo aparecerão outros envolvidos nessa lista do Bahia dando desculpas parecidas, como se fosse possível manter a independência recebendo passagens, hospedagens, alimentação, verba publicitária...Triste Bahia.
Atualização: Ao contrário do que disse Baraúna, segundo lista que circula em outros blogs, o valor referente a esse jornalista inclui o pagamento de 73 passagens aéreas, que totalizam quase R$ 40.000,00.
PETER CROUCH
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