Encerra-se mais um capítulo polêmico na história do futebol baiano. Diante dos péssimos resultados nas quatro linhas em sua primeira e única temporada, o ex-presidente rubro-negro deixa a diretoria de futebol do tricolor da capital. Como sabíamos que quaisquer que fossem os resultados, partiriam gozações ou do lado de lá ou de cá, só nos resta comemorar tal derrocada.
Ao chegar às dependências do Fazendão, o agora ex-diretor do rival colocou pólvora no cenário esportivo nacional. Seu discurso era de que o provincianismo tinha acabado no esporte do estado e o profissionalismo tornara-se real. Isso fez com que alguns até embarcassem nas palavras do dirigente, mas o certo é que a grande maioria não digeria aquela idéia como a mais indicada para promover o ressurgimento do Esporte Clube Bahia. Fora aqueles que creditavam tal transferência ao sentimento de mágoa devido à forma como o dirigente saiu do Vitória.
O problema é que para que haja uma modificação completa no caminho de um clube é necessária paciência, competência e conscientização de resultados a longo prazo. Isso foi observado no Vitória, cuja direção encabeçada por Ademar Lemos e pelo próprio Paulo Carneiro assumiu o rubro-negro sem lenço e sem documento no final da década de oitenta, transformando-o gradativamente em uma respeitada instituição.
Do outro lado era evidente que não haveria tolerância diante de resultados negativos, sobretudo no início, etapa mais complicada para se vencer diante do caos financeiro e fragilidade estrutural. Tudo isso devido ao fato de um dos dirigentes ser assumidamente torcedor declarado do rival. Acabava sempre aflorando pressões da imprensa, conselho e torcida.
Como sabemos que nosso ex-presidente sempre foi “antenado” para com desenvolvimento estrutural, provavelmente nas dependências tricolores podem ter havido sim, mudanças consideráveis. Mas, como no “ópio do povo” vive-se de resultados dentro de campo e não fora, sua queda era questão de tempo. O mais triste é que ninguém parou para observar o que tudo isso veio a resultar.
Ao assumir tal missão, o cartola provavelmente fechou de vez as possibilidades de algum dia voltar ao seu clube de origem. O que ele não prestou atenção é que aliado ao profissionalismo tão pedido por todos, o futebol nacional é obrigatoriamente constituído de rivalidades sólidas, tendo a paixão como sua maior gasolina e cuja decisão desse tipo é interpretada como traição. Perdeu-se então a admiração.
Alguém aí já viu um ex-diretor do Palmeiras partir para o Corinthians? Ou um ex-presidente do Flamengo vestir a camisa do Vasco? Será que já foi testemunhado um ex-cartola do galo mineiro declarar na imprensa que no clássico o Cruzeiro sairia vencedor? É claro que não!
Até que já acompanhamos exemplos de transferências de diretores de um clube para o outro, porém sem mexerem brutalmente com a rivalidade. Bebeto de Freitas saiu do Botafogo e foi para o Atlético-Mg (Nada de Flamengo, Vasco ou Fluminense)! Raimundo Barbosa deixou sua maior paixão, o Goiás e experimentou presidir o futebol do nosso Vitória (Vila Nova, nem pensar!).
Existem exemplos mais modestos e que se aproximam um pouco da questão “paixão futebolística” como foi o caso de Newton Mota, tricolor de coração e que ajudou a fortalecer a base do Leão. Porém, é incomparável o significado de Newton Mota e Paulo Carneiro para Bahia e Vitória, respectivamente.
Mota trabalhou a vida inteira quase que silenciosamente nos clubes sem presidi-los, enquanto que Paulo liderava uma nação, esmagando o rival e levando nossa torcida à loucura. Foi um dos maiores responsáveis pela tomada da hegemonia regional do Bahia e consolidação do rubro-negro como um dos principais clubes do país. Já invadiu vestiários, xingou juízes, treinadores, já arrebatou troféu e saiu na mão com meio mundo de gente em prol do Vitória. Entende agora a dimensão de sua decisão, PC?
Aliás, ironicamente ficou a impressão e o sentimento de que você cumpriu o prometido (é claro que isso é tiração de sarro!): Nasceu pra ferrar com o Bahia!
É por ter se tornado tão frio que você cometeu seu maior erro, Paulo. Tinha tudo para ser lembrado por todos nós, rubro-negros, como um dos maiores dirigentes da história do Esporte Clube Vitória (mesmo sendo), embora o tenha entregado na série C. Mas, ao vestir a camisa rival, ter se enrolado na bandeira deles e provocado tanto o seu verdadeiro povo, que dificilmente essa ferida será cicatrizada. O Vitória ganhou. Você perdeu.
Saudações Rubro-Negras!
Renato dos Anjos Ribeiro
Rubronegro e fisioterapeuta.
E-mail: tinhojhow@yahoo.com.br
Taí outro rubro-negro que vou com a cara (aliás, no mundo interneteiro se assim podemos chamar), os rubro-negros estão furos acima do universo tricolor, até porque nós os tricolores só temos queixas a fazer. Agora o tema é interessantíssimo para os especialistas de futebol e, porque não, de comportamento? A pergunta que se fez é essa: como um homem, reconhecidamente competente, como Paulo Carneiro aliado a um clube, igualmente reconhecido pelo enorme potencial, com umas das torcidas mais fiéis do Brasil, jogando num estádio novo pode fracassar (e não foi um fracasso pequeno), numa disputa de dois campeonatos sabidamente terríveis tecnicamente?
Outra pergunta, essa apenas pela curiosidade, é saber como Paulo Carneiro, bandido, experiente, macaco velho, foi se meter no que agora sabemos que foi uma roubada?
Dinheiro? Não creio. Vaidade? Talvez. Movido pelo amor ao esporte? Duvido! Hipnotizado pelo ódio aos atuais dirigente do Vitória? Não se sabe! Certo é que o grande perdedor desta história foi o próprio Paulo Carneiro, que fechou as portas do clube que torce e ajudou a crescer e se já tinha uma imagem arranhada, agora vai ganhar grossa camada de ferrugem.
Como já disse Renato dos Anjos Ribeiro, com toda a propriedade, faltou paciência, faltou falar a verdade e sobraram falsas expectativas. O Paulo Carneiro colaborou com o crescimento do Vitória ao longo de alguns anos e jamais operou algum milagre da multiplicação do nada em alguma coisa, em apenas alguns meses, como se esperou dele no Esporte Clube Bahia.
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