sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Promotor bate pé firme e festeja o BA-VI de uma torcida

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O sistema de torcida única será mantido do BA-VI do próximo Domingo e que pelo li (abaixo) será pela vida inteira ou enquanto o promotor Olímpio Campinho estiver no Ministério Público. No meu entendimento é uma medida inócua, arbitraria, segregadora, além de preguiçosa e revela a incapacidade e falência do estado em lidar com a segurança pública ou quem sabe pela falta de outra atividade para o Ministério Público se preocupar

A única eficácia da medida é reduzir cada vez mais o caráter festivo que deve ter um jogo de futebol, especialmente um BA-VI onde a festa das torcidas, digo FESTA, tem um papel tão importante quando o próprio jogo. Na falta de capacidade de administrar e exercer um papel até institucional, optam pelo simples e o mais fácil: PROIBIR, assim faz o incompetente quando é incapaz de resolver problemas de sua alçada.

O promotor diz até que ADORA futebol, não duvido, mas tenho certeza que desconhece a origem da violência no futebol em Salvador e acredita que o que acontece por aqui é uma copia fiel do que acontece em outros centro. Não é. Dai é uma medida preguiçosa já que não se debruçam de fato sobre os problemas para encontrar uma solução não tão radical que impedem pessoas de bem frequentar os estádios no jogo de maior apelo no ano. 

O promotor foi alvo de entrevista nesta sexta-feira no jornal Correio da Bahia e garante que a medida deu certo e por isto será mantida.


O senhor gosta de futebol? Já frequentou estádios?
 
Como todo brasileiro adoro futebol. Joguei bola até quando a saúde me permitiu. Ainda peguei o campo da Graça. Meu pai foi presidente do Ypiranga, é ypiranguense doente, mora no interior e até hoje, aos 83 anos, pede aos netos para ver um jogo do Ypiranga. Isso quando o Ypiranga disputa alguma coisa. Como até minha adolescência eu era Ypiranga, isso me impediu de ser Bahia e Vitória. Porque você escolhe o time na infância. Depois você não vai dizer: “vou mudar de time”. Sou também fanático pela Seleção Brasileira. Adoro futebol. Eu parei de ir para estádio porque não me sinto estimulado, já que não sou nem Bahia, nem Vitória. Agora, como eu tenho muitos amigos, e também não quero ficar fora dessa festa que é o futebol, vou ver de vez em quando o Bahia ou o Vitória com amigos. 

Lembra-se da torcida mista da antiga Fonte Nova? O que mudou de lá para cá?
Antigamente não tinha isso de divisão de torcida. A torcida do Bahia ia para um lado, a torcida do Vitória para o outro. A torcida do Vitória ficava ali a partir do alambrado, do lado da cadeira cativa da Fonte Nova, né? A do Bahia tomava o restante dos dois anéis e ia até a abertura da ferradura. E quem não queria nada daquilo sentava no resto do estádio misturado.

Exato. É o que estou chamando de torcida mista...
Isso. Era uma coisa meio que natural. E ficavam aqueles torcedores no meio ali juntos.  

O que mudou?

O que mudou foi o mundo. O Brasil mudou. A Bahia mudou. Salvador mudou. Você jogava bola na rua, andava de bicicleta na rua, voltava para casa oito da noite e seu pai e sua mãe não estavam preocupados com isso. E hoje você não deixa seu filho na rua até essa hora. O que mudou foi o país. A gente vive uma crise na segurança pública já há muito tempo.

Não é esse governo, nem o anterior. Todo mundo foi dormindo, cochilando. E foi piorando. E o futebol é uma expressão dessa crise de segurança que você vê no trânsito, você vê na praia. Foi isso que mudou. A violência chegou no futebol porque hoje ela infelizmente está arraigada na nossa sociedade. Em alguns estados e cidades a situação está melhor; em outros, pior.

Isso então é nosso velho problema de segurança que só faz piorar. E nossos governantes falham em todas as instâncias. Entra um e sai outro, todo mundo assistindo e nada de eficiente.

É possível tomar medidas específicas para o futebol? Quem tem sido mais incompetente nesse processo de dar segurança aos torcedores?

Eu acho que quando o assunto é futebol, medidas têm que ser adotadas também. Não adianta você querer transformar o futebol em uma maravilha e dizer que o problema de segurança pública está fora disso. Não adianta ninguém querer se enganar que não é verdade. Eu estava ouvindo reportagem no rádio de que foram presas duas pessoas envolvidas no assassinato do presidente da Mancha Alviverde [torcida organizada do Palmeiras]. Isso é o quê? Violência pura. E o futebol é culpado disso? Não, isso é consequência da violência que está atingindo todos os ramos da sociedade. Nesse Campeonato Brasileiro atual você viu morte dentro do estádio: Vila Nova x Goiás. Você viu torcedor sendo espancado quase até a morte no Coritiba x Corinthians. Você viu um morto do lado de fora no Palmeiras x Corinthians, no Flamengo x Vasco. Quer dizer, e aqui na Bahia já acontece há muito tempo. Aconteceu este ano ali no posto de gasolina no Dique do Tororó, perto do estádio, mas já acontece há muito tempo.

Tem algo a ser feito? Tem algo a ser feito pelo poder público, mas não é só pelo futebol. Tem que ser feito de forma geral. Nosso sistema policial e judicial, do qual o Ministério Público faz parte também, a Polícia Civil faz parte, a Polícia Militar faz parte. Começa com a Polícia Militar, que prende, e termina com a execução da sentença de um juiz, quando ele condena ou absolve se ficar provada a inocência.

Esse sistema aí tem que que funcionar bem para quem comete crime, digamos assim, ligados ao futebol, que é o que nos interessa. Mas você vê esse sistema funcionando bem na vida? Em relação a sua casa, seu patrimônio? Não. Está ligado a uma crise da segurança pública. O futebol é só uma repercussão disso.

Não fosse essa crise, o senhor recomendaria a torcida única?
Se não fossem os problemas que acontecem principalmente no entorno do estádio, não recomendaria. Mas é importante dizer que acontece também dentro do estádio. Claro, acontece em muito menor escala dentro do estádio. Por quê? Porque tem 500 policiais lá dentro para impedir. E hoje no estádio setorizado você separa as torcidas. Agora, se você for conversar com o gerente de administração lá da Fonte Nova, ele vai te dizer, como já me disse uma vez, que vai ter uma hora que não vai ter como separar. Por mais que coloque a Bamor longe da Imbatíveis, surge uma dissidência dos Imbatíveis, que eu tenho que separar da Bamor, mas agora eu tenho que separar da Imbatíveis também, porque eles brigam. E aí nasce uma dissidência da Bamor. Então, em vez de dois, eu tenho quatro problemas.

Você lembra daquele episódio, há um ano, quando torcedores do Bahia subiram pelo lado da Fonte Nova, entraram ali na lateral do Convento do Desterro e invadiram a sede da torcida Terror Tricolor? Ali são duas torcidas do Bahia. Aqui já chegou um líder de torcida do Vitória com dois seguranças. Ele estava andando com dois seguranças porque estava sendo ameaçado por outra torcida do Vitória. Quer dizer, futuramente quantos setores serão necessários para separar tanta torcida inimiga?

Então, se a separação não é uma solução, por que a torcida única é uma solução?

A separação, por enquanto, é um paliativo. A torcida única eu digo que é um mal necessário. Se o poder público me der uma solução eficiente, dizendo: 'eu garanto que agora não vai ter mais aqueles confrontos no entorno do estádio', aí não precisa de torcida única.

O senhor não acha que é uma questão de identificação desses indivíduos e punição?
Sim, isso é o principal. Mas olhe só. Aí eu volto para o início da nossa conversa. Isso tem que acontecer no futebol e isso tem que acontecer na vida. Por que nossos amigos, conhecidos, parentes, estão sendo mortos na rua? Porque aquele que matou, assaltou e cometeu o latrocínio várias vezes continua solto. É uma ineficiência do nosso Estado. E olhe só, o Ministério Público faz parte disso. É um sistema que tem que funcionar bem. Começa com a lei, mas tem a questão social também. Tirar a meninada da rua. Para que o traficante e o homicida não sejam o exemplo dela. Que o exemplo dela seja um jogador de futebol, um cientista, um autor de livros, um ator de televisão, um engenheiro ou um médico.

O senhor citou o caso de Palmeiras x Corinthians, em julho. Foi um jogo de torcida única e o palmeirense acabou morto do mesmo jeito. Mostra que a torcida única não é infalível.
 
Em São Paulo, onde começou a torcida única, o primeiro Campeonato Paulista com torcida única não teve um único incidente. Só isso aí já comprova que a torcida única é necessária. É uma medida que não é o ideal, claro, gostaríamos de torcida mista no estádio. Mas isso mostra a eficiência bem razoável da medida. Não teve nenhum conflito. Não quer dizer que a eficiência seja sempre 100%.

Só esse fato que aconteceu, de passar vários clássicos, com os quatro grandes times, em um campeonato inteiro sem um único incidente, isso já prova a eficiência da medida. É a melhor? Não. O futebol perde um pouco da sua graça? Perde. Seria melhor que outras medidas fossem tomadas e voltasse a torcida mista? Seria. Mas por enquanto é necessário. A eficiência da torcida única está comprovada.

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