O goleiro Omar não foi “bancado” direção do Bahia. Sempre precisou brigar com outros bons goleiros pela camisa titular do Bahia e até que obteve sucesso. Foi titular do Bahia na Campanha de 2010 quando o tricolor depois de sete anos retornou para a Série A. Depois não se firmou. Sofreu lesão grave, foi encostado e depois simplesmente desapareceu do tricolor de aço e reapareceu nesta quarta-feira no Jornal do Correio em entrevista ao jornalista Gabriel Rodrigues falou da sua trajetória por onde anda e qual o clube vai atuar na temporada 2018.
Veja a entrevista
Você chegou à base do Bahia em 2009, com 19 anos, mas já tinha sido profissional no Santos. Como foi essa história?
Eu iniciei no futebol de salão por um convite de um amigo, depois parei de jogar e optei por ir para o campo. Senti muita dificuldade, a baliza era muito grande e eu ficava muito chateado em tomar gols. Em 2001 fui fazer um teste no Londrina e lá comecei minha caminhada até chegar ao Bahia.
Depois do Londrina eu voltei a São Paulo, fiquei um ano no São Paulo, fui para o Santos e lá tive a oportunidade de subir para o profissional com Vanderlei Luxemburgo. Com 16 anos participei do time campeão paulista em 2006. Mas tive um problema de contrato com um empresário e não renovei. Voltei para casa com o pensamento de largar o futebol. A minha mãe estava trabalhando em Trancoso e eu fui ficar com ela. Foi quando comecei a vender queijo na praia.
Você saiu do profissional do Santos e foi vender queijo na praia?
Foi uma mudança muito dura. Eu fiquei muito chateado. Voltar para casa foi uma decepção muito grande para mim. Os meus pais sempre me apoiaram em todas as decisões, mas era duro porque eu via no futebol a oportunidade de dar para a minha mãe a grande mudança que ela tem hoje, que é um suporte de uma casa onde ela pode dormir tranquila. Aquilo me magoava porque eu tive a chance de estar no profissional, participando, a minha expectativa era muito grande. De repente aquilo tudo desmoronou. Eu voltei para casa e só não queria dar trabalho para a minha mãe. Esse foi um dos motivos que eu passava o dia todo na praia vendendo queijo, procurando alguma coisa para fazer.
Quando decidiu voltar ao futebol?
Tinha um time na cidade, que é a seleção de Trancoso, que ia disputar um campeonato, chamado Sul Bahia, em Belmonte. Na época eu não queria participar porque tinha que pagar e eu estava muito desanimado com a situação de estar em uma equipe profissional e ter que pagar para jogar. Mas a minha mãe sabia do meu sonho e pagou escondido. O treinador me chamou e, durante a competição, Newton Mota me viu. Ele falou que estava montando um time em uma cidade de Minas Gerais. Eu tive a oportunidade de fazer testes nessa equipe, que era o Itaúna, e me abriu as portas porque fiquei lá pouco tempo e acabei indo para o Cruzeiro. Em 2008 eu fiquei no Cruzeiro, o profissional estava muito inchado de goleiros, não subi, e no ano seguinte vim para o Bahia.
A campanha na Série B de 2010 foi marcante por retornar à Série A após sete anos. Como era o clima daquele elenco?
Muito bom. Cada treinador tinha sua maneira, com personalidades diferentes, mas conseguiam fazer cada um olhar para o mesmo foco e todo mundo abraçar a ideia, isso é fundamental. Renato (Gaúcho) é um cara que tem um jeito muito igual ao jogador, muito claro na maneira de falar. O professor Márcio (Araújo) é um cara que fazia o jogador assistir a uma hora de preleção e sair dando risada. Isso deixava a gente mais junto. A gente passava por alguns problemas dentro do clube e aquilo fazia a diferença. Tinha dificuldades financeiras e, se o treinador não soubesse tirar o foco, a gente poderia ter perdido o objetivo.
No Torneio Início de 2011 você pegou quatro pênaltis. Naquele dia, o então preparador de goleiros Ricardo Palmeira chegou a afirmar que você era dinheiro certo para o Bahia. O que aconteceu para que você acabasse não vingando?
Em 2011 eu comecei bem o Torneio Início e o (técnico) Rogério Lourenço me chamou e falou: 'olha, você vai ter sua oportunidade, mas trabalha que agora vou iniciar com Tiago'. Isso antes do jogo até. No decorrer do campeonato o time não vinha bem, não tinha base nenhuma do ano anterior, e a torcida criou uma expectativa para que eu tivesse a minha oportunidade. Logo depois que Rogério Lourenço foi embora eu comecei a ter sequência. Fiz 25 jogos com Chiquinho de Assis. Mas aí chegou Renê Simões, me chamou para conversar e disse que eu não estava preparado para assumir o gol do Bahia. Eu até conversei, disse a ele que era uma opção dele, mas que eu estava lá por trabalho e não por A, B ou C. Acho que aquilo gerou uma indisposição muito grande, não sei se fui mal interpretado, mas deixei claro que estava a critério dele. Eu até joguei na estreia do Bahia em casa no Brasileiro, contra o Flamengo, mas na sequência ele resgatou Tiago. Eu só voltei a ir para o banco com Joel Santana.
Acha que a saída do time custou a vaga na Olimpíada?
Em 2011, antes do Renê Simões chegar, o pessoal da CBF chegou a vir me ver jogar, eu era cotado junto com Rafael, do Cruzeiro, e Rafael do Santos, para ser convocado para a Olimpíada de Londres, mas acabou que no início do campeonato tudo mudou e sem estar jogando é muito difícil. Rafael (do Santos) machucou e quem jogou foi convocado foi Gabriel, do sub-17 do Cruzeiro, que nem estava entre os cotados.
Em 2015 você começou o ano como titular, mas também perdeu espaço. O que aconteceu?
Em 2015 aconteceu uma situação parecida. Sérgio Soares não optava por mim para começar a temporada. Ele não chegou a falar isso diretamente para mim, mas dentro do clube, no staff, ele falava que não optava por mim e que se tivesse a oportunidade eu não seria o goleiro. Tanto é que eu fiquei fora de um jogo e quando estava pronto para voltar no Ba-Vi ele pediu para eu segurar mais um pouco. Depois eu fiquei quase dois meses correndo em volta do campo sem entender. A opção dele era pelo Douglas (Pires) e Jean, mas isso acaba que gera muitos comentários. Aquele ano eu fiquei fora apenas três semanas, estava à disposição a temporada toda, mas ele não me levava para os jogos.
Naquele ano uma nova gestão assumiu o clube e tudo parecia que ir dar certo. Por que vocês não conseguiram o acesso?
A equipe era ofensiva, conquistou os resultados, mas na hora que era para a gente estar em uma crescente ou manter a regularidade, nossa equipe caiu. Eu digo para você que aquele ano nós perdemos para nós mesmos. Eu vi muitos falarem do professor Charles, mas eu isento ele de qualquer situação. Os jogadores, por alguma vaidade, alguma coisa, não conseguiram resgatar a força.
Como foi sair do Bahia depois de sete anos?
Apesar de ter vivido em Salvador por muito tempo, o jogador já está acostumado com essa mudança. A dificuldade maior é nas pessoas, estava habituado com os profissionais do clube. Mas eu tento entender o mais rápido possível como o novo clube funciona, observo as críticas construtivas e tento assimilar o que o clube quer. Eu estive no Bragantino logo depois de sair do Bahia, encontrei Rômulo (atualmente no Busan I'Park, da Coreia do Sul) e outros atletas que já conhecia, isso facilita bastante.
Chegou a ser anunciado que você jogaria no futebol de Portugal. Por que não deu certo?
Estive no Gil Vicente, clube da segunda divisão, por 45 dias, fiz toda a pré-temporada, mas o pessoal não cumpriu o combinado e, no momento de assinar, fez outra proposta. Eu tinha contrato com o Bragantino até o final do ano, rescindi e acabei ficando sem clube o resto do ano todo. Quando voltei de Portugal, fui para o Sampaio Corrêa, mas não deram entrada no meu contrato e as inscrições se encerraram. Eu fiquei nove meses só treinando. O Bahia me deu a oportunidade de utilizar os profissionais do clube, o que me deixou em ponto de bala quando cheguei no Água Santa (SP), em dezembro.
Depois do Campeonato Paulista da série A2 você foi para o futebol do Acre, onde trabalhou com o ex-goleiro Renê. Como foi esse reencontro?
Renê conversou com Ricardo Palmeira (ex-preparador de goleiros do Bahia) e perguntou onde eu estava. Em uma conversa despretensiosa ele falou que eu tinha acabado de sair do Água Santa, nós perdemos o acesso nos pênaltis. Eu estava em casa há uma semana, ele me perguntou se eu queria uma chance. Para mim o diferencial é estar jogando. Eu sei do meu potencial e tenho certeza que jogando tenho condições de voltar à elite do futebol brasileiro. Fui para lá e fiz um campeonato muito bom, o pessoal gostou muito e Renê citou até o exemplo do Jandrei, que no ano passado estava jogando a Série B do Catarinense e este ano está na Chapecoense.
Você foi companheiro de Jean no Bahia. O que tem achado do desempenho dele?
Para mim Jean não é surpresa nenhuma. Ele desde de muito jovem mostrou potencial. Com certeza o amadurecimento foi fundamental para que o nível de atuação elevasse a cada jogo. Quando o professor Ricardo (Palmeira) comentava sobre ele, nós víamos uma grande diferença entre os jogadores da mesma idade e até mais velhos do que ele. Ele amadureceu muito jogando e tem mostrado que é um dos destaques do Brasileirão. Vai ajudar muito o Bahia.
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