quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Internacional, Vitória a 2ª divisão e os prejuízos

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O Campeonato Brasileiro da Série A está próximo do fim. O Palmeiras aparece como provável Campeão. Já na parte baixa da tabela de pontuação, Internacional e Vitória lutam para escapar da 2ª divisão, fato que não foi possível para Santa Cruz, América-MG e Figueirense, que aguardam o ritual matemático para arrumar as malas para mudar de divisão.

A luta entre Internacional e Vitória é de resultado imprevisível. O Vitória, com um ponto além do time gaúcho, aparece com melhores condições, ainda que os matemáticos façam projeções livrando a cara do Internacional, pelo peso e tradição. Acredito que o resultado do jogo do Vitória contra o Santos vai acender uma luz mais intensa, para que se veja com maior clareza as possibilidades de cada um.

Mas seja lá quem for o “derrubado”, quais serão as consequências para a saúde financeira do clube? O desamparo moral, ah, este é certo e garantido e não tem preço. E a receita, a visibilidade, a relação com os patrocinadores?

O Internacional trabalha com essa possibilidade e já faz cálculos e a conclusão é que o prejuízo é apenas na imagem, que reflete no valor da marca do clube e a reduz do prestígio, a caixa registradora não.

Segundo o diretor da Controladoria e Transparência do Inter, Sandro Farias, em entrevista concedida ao jornal Zero Hora de Porto Alegre, os novos contratos de TV já renderão ao clube pelo menos R$ 110 milhões, na próxima temporada.

— Conforme tem sido apresentado aos conselheiros e em nosso portal da transparência, o Inter tem condição de fazer um ano de 2017 em patamares financeiros muito próximos ao do atual exercício, independente de como será o nosso calendário em no ano que vem — se Serie A ou B. diz Farias.

— Temos estabilidade de contrato com a TV e a Primeira Liga pode melhorar um pouco os seus valores. O contrato com a Nike é que tem uma diferença entre estar na primeira divisão e cair para a segunda, mas não chega a ser um valor relevante — acrescenta o dirigente, lembrando que o Inter fatura R$ 33 milhões ao ano com os patrocinadores, incluindo a fornecedora de material esportivo.

A previsão orçamentária do Inter para 2016 é de R$ 311,9 milhões. Atualmente, o faturamento bruto do clube na temporada está na casa dos R$ 250 milhões. Esse número poderá se aproximar da previsão inicial, caso o Inter faça alguma venda relevante após o Brasileirão.

— É um bom desafio para o próximo presidente pensar que terá um exercício financeiro parecido com o de 2016, com salários em dia e uma folha do futebol profissional na casa dos R$ 6 milhões, que é praticamente mantida com o faturamento mensal do Quadro Social (um total de 108.024 torcedores, com 19.388 inadimplentes). Essa folha ainda pode ser reduzida, se o novo presidente desejar — afirma Sandro Farias.

Se o caixa não será afetado imediatamente, a imagem do clube sofrerá efeitos que ainda não poderão ser mensurados.

— A marca Inter será afetada negativamente. A imagem é construída pela história. Se cair, o Inter perderá um de seus grandes orgulhos e ainda verá o torcedor adversário tirando proveito disso. Como imagem, a perda é muito grande — analisa Fernando Fleury, professor de Gestão do Esporte, na Uninove, de São Paulo.

— A marca Inter vale hoje R$ 609.2 milhões, e é a sexta mais valiosa do futebol brasileiro. Se for rebaixado, porém, ela sofrerá um impacto imediato e direto. Perderá esse posto, pois terá o seu potencial comercial reduzido — explica Pedro Daniel, consultor esportivo da BDO Brazil, auditoria que inglesa que analisa mercados de futebol. — Também será mais difícil para o Inter atrair atletas de ponta. Quem vai querer jogar a Série B? O atleta não quer se expor, o patrocinador também não. Além disso, será um clube com gastos de Série A, com receitas de Série B — justifica Daniel.

O professor Fleury também ressalta que o Inter será pouco visto pelo "mercado" do futebol. E que somente a participação na Florida Cup, voltada basicamente ao público norte-americano, como única aparição internacional, seria insuficiente para compensar a ausência na primeira divisão.

— Jogar a Série B, em vez de Libertadores, da Copa Sul-Americana e da Série A, resultará em menor visibilidade para o mercado, afetando diretamente o interesse de novos patrocinadores no clube — relata ele.

— A segunda divisão é ruim, mas recuperável. Pode fazer com que até o quadro social cresça, pois, no primeiro ano da queda, a torcida tem um sentimento de família, de resgate. Porém, se não subir logo no primeiro ano, clube grande entra em colapso e a torcida passa a mão acreditar mais — conclui.

Prova de que a torcida tenta recuperar o clube amado no "Ano 1" do descenso e se cansa com reiterados fracassos é o Vasco. O torcedor vascaíno entrou em uma espécie de depressão, com o terceiro rebaixamento em oito temporadas, e sumiu de São Januário nesse segundo semestre.

— A média de público do Vasco caiu muito. Pudera, em oito anos foram três rebaixamentos. É o exemplo de clube que caiu e que não aprendeu nada com isso — pondera Gustavo Loio, repórter do jornal O Globo. — Em 2009, quando o clube jogou a Série B pela primeira vez, a média de público foi de quase 26 mil torcedores por jogo, hoje, ela é de apenas 8 mil torcedores — emenda Loio.

Já em Salvador, a empolgação dos torcedores mantém a média de público do Bahia na casa dos 13,8 mil torcedores por jogo — média superior à do Santos, na Série A, que é de 10,5 mil.

— Aqui, há um componente diferente: as torcidas estão acostumadas a subir e descer no Brasileirão. O Inter, não. E talvez isso seja mais impactante para time e torcida — diz Daniel Dórea, repórter do jornal A Tarde, de Salvador. — Ainda assim, a folha do Bahia é a mais alta da Série B: mais R$ 3 milhões. Renato Cajá recebe R$ 300, Hernane Brocado, R$ 250 mil, e a comissão técnica, com Guto Ferreira, R$ 450 mil. Tudo isso para que 2016 seja o último ano de Série B — acrescenta Dórea.

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