domingo, 2 de agosto de 2015

Caminhos possíveis para o futebol brasileiro

Comentários
Amigo torcedor, mais um debate aberto e livre para tratarmos das entranhas misteriosas do nosso esporte sagrado. Nesses momentos em que nossa gloriosa série B está começando a efervescer e causar calafrios em muitos, imagino a dificuldade de discutir e focar em outros temas. Porém, temos que estar com um olho no peixe e outro no gato (deixo para o gosto de cada um escolher o tipo de peixe e o felino também! rsss). Precisamos pensar um pouco mais além da “simples” disputa do campeonato da vez. Faz-se imperioso perguntar-se: qual o futuro do nosso futebol?

Cruel pergunta de difícil resposta. Dilacerante dilema de esquecer um passado glorioso e saltar para um abismo incerto. Nós temos que aprender a voar de novo, nos reinventar, nos repaginar sob pena de sermos soterrados pelo passado e nos tornarmos, simplesmente, uma amarelada foto na parede ou envelhecido troféu na prateleira.

Não sou muito afeito a seguir modelos de experiências feitas pelos outros. O conhecimento absorvido com elas é sim importante. Mas, devemos buscar e trilhar nosso próprio caminho. Urge descobrirmos que futuro podemos construir levando em conta o passado brilhante que tivemos. Cito este pensamento em razão da profusão de opiniões sobre a revolução que a Alemanha fez em seu futebol, culminando com a demolidora vitória sobre nosso selecionado na última copa. Fica a lição para todos nós. Porém, como dito, este não deve ser nosso modelo e, a bem da verdade, não existe modelo pronto.


DESCONSTRUINDO O TOPO DA PIRAMIDE


Não acredito que seja possível alguma mudança ou reconstrução significativa no nosso futebol (ou em outro esporte!) se o modelo de poder na CBF, incluindo a escolha de dirigentes, permanecer o mesmo. Alguma novidade ou reformulação menor pode ocorrer, mas uma reconstrução contrariaria o próprio modelo, tornando essa situação mutuamente excludente. Estendo o mesmo entendimento para as federações estaduais, que pouco fazem para o crescimento e modernização do futebol. Acredito que precisamos de um envolvimento maior de ex-jogadores, melhor formação e profissionalização dos mesmos (e de todos) para não só comandar, como também dar um maior nível de credibilidade ao processo.
Seria de bom alvitre, também, rever a estruturação das cortes desportivas. Instâncias que possuem imenso poder e que podem influenciar competições que manuseiam imensas quantias de dinheiro. Se o futebol precisa ser profissional, a corte que o julga muito mais. O acesso a estes preciosos cargos poderia ser feito através de rigorosos processos de seleção, como os de concursos públicos, sem que eles sejam, necessariamente, funcionários públicos.

CALENDÁRIO DO FUTEBOL E CAMPEONATOS ESTADUAIS
Imagino que seja do entendimento da grande maioria que o planejamento é fundamental para o sucesso administrativo, financeiro e esportivo das equipes. Porém, como planejar um ano inteiro com um calendário desorganizado ou, até mesmo, não ideal? Como montar equipes mais qualificadas se vivenciamos os primeiros meses do ano com campeonatos deficitários? Acredito, com pesar, que os campeonatos estaduais exauriram sua capacidade atrativa e competitiva e estão com os dias contados. Não parece minimamente lógico a disputa de um campeonato, o baiano por exemplo, com duas equipes profissionais e o restante amadoras e com apelo quase inexistente de público.

Esta situação cria um tenebroso circulo vicioso, no qual nossas principais equipes não investem no início do ano pela falta de retorno do campeonato estadual e, com isso, prejudicam as demais competições da temporada por terem perdido precioso tempo na montagem e entrosamento dos elencos. Qual a melhor solução? Fundir o estadual com o intermunicipal e liberar a dupla BaVi para um campeonato/copa regional?

Agregue-se o fato do reduzido tempo para pré-temporada. Inviabilizando, inclusive, possíveis excursões que nossas equipes poderiam fazer ao longo do país ou até mesmo exterior para divulgar sua marca. Ainda pode ser adicionado o péssimo nível dos gramados e estádios pelo interior a fora, inviabilizando a manutenção do nível técnico das partidas.

Óbvios amigos que esses não são nossos únicos problemas. É necessário observar também alguns outros pontos, como o estranho critério de acesso para a Sul Americana e a própria valorização deste interessantíssimo campeonato. Alguns ainda podem retrucar: “Mas, agente não tem ingerência sobre a Sul Americana. Isso é com a Comenbol”. Então eu deixo uma pergunta: Será que já não está na hora de termos uma participação mais efetiva na organização dos campeonatos do continente? Nós somos o Brasil, nessa zorra!


RESPONSABILIDADE FISCAL E FINANCEIRA DOS CLUBES


Como comentado em outro texto, com a aprovação da MP 671 no Congresso Nacional abre-se um novo horizonte, coeteris paribus, para administração dos clubes. Não se pode conceber um futebol profissional onde clubes devem salários a seus atletas ou funcionários. Esta situação deve ser riscada completamente do mapa do futebol brasileiro. Nem tão pouco a estratégia de: Quer dispensar o cara, então afasta e não paga! Esta é a grande válvula de escape para quem contrata mal.

Além disso, acrescento que é importante questionar porque os altíssimos salários ganhos por atletas não são tributados na sua totalidade. A seriedade e responsabilidade deve, também, trazer justiça fiscal para o restante da sociedade. Pois, se justo é que um trabalhador-jogador receba em dia, justo também será que ele pague os impostos como qualquer um membro de nossa sociedade.

O FUTEBOL NACIONAL COMO BASE DA NOSSA SELEÇÃO


Quando enchemos o peito e falamos do futebol brasileiro, imagino que na mente de cada um surjam imagens de grandes jogos do passado, tanto das equipes do futebol nacional, quanto da seleção brasileira. No entanto, qual o nível do futebol praticado no Brasil hoje? Será possível continuar imaginando uma completa desconexão entre o futebol praticado pelos clubes e o da seleção nacional (futebol ruim nos clubes e bom futebol na seleção. Hoje temos mal futebol em ambos, pois um contamina o outro.)? Também será possível não comparar o futebol jogado no país frente ao de países da Europa?

Parece claro que existe um vínculo profundo entre o futebol de nossos clubes e o da seleção, ainda (e talvez por isso) que a maioria dos jogadores do combinado nacional jogue fora do país. A reformulação do futebol brasileiro certamente irá influir positivamente na seleção brasileira. Quer por uma mudança de filosofia de jogo, desde a base até o profissional, quer pelo melhor aproveitamento do imenso material humano que somos capazes continuamente de produzir.

A formação de atletas deve ter uma atenção especial. Ela não pode mais estar desvinculada das mais modernas formas de estruturação táticas das grandes equipes do futebol mundial. Num exemplo claro, nossos volantes tem que aprender, desde a base, a serem jogadores tão úteis na construção, quanto na destruição de jogadas. O futebol deve ser o quão mais coletivo quanto possível e o jogador, por mais diferenciado que seja, deve ser ativo e participativo durante todo o jogo. Reproduzindo o que disse tostão: “O típico jogador brasileiro é veloz, habilidoso, individualista e confuso”. Disse ainda Tostão concordando com o técnico do São Paulo: “O futebol brasileiro é de muita emoção e de pouco controle do jogo”.

Outro aspecto a ser considerado é um maior intercambio com treinadores dos países vizinhos. A possibilidade de uma maior diversidade de “professores” semeando novos conceitos e conhecimentos aliado ao potencial natural do jogador brasileiro pode ser extremamente benéfico para o desenvolvimento e o futuro do futebol nacional. Além disso, pode equilibrar o mercado e diminuir o elevadíssimo nível salário de muito de nossos treinadores.

Claro que não seria possível esgotar nesta pequena missiva todo o tema. Aliás, se me permitem a analogia, este processo de reinvenção do futebol nacional deveria ser tão profundo quanto o que presenciamos na feitura da nossa atual Constituição Federal. Não podemos nos contentar com uma simples mudança, precisamos de um novo modelo e de um novo paradigma. Precisamos de uma revolução estrutural e de conceitos.

Se não fizermos isso, estaremos mantendo a folclórica estratégia do avestruz. Ou, quiçá, será inevitável implementar a estratégia brilhantemente conduzida pelos nossos bons amigos Lite e Dalmo, que entre dissabores políticos e esportivos tem animadas conferências debaixo da cama. Soube, inclusive, que após a instalação de um recheado frigobar, adicionaram uma pequena farmácia. Para fazer frente aos insucessos tricolores e aos pronunciamentos (qualquer um deles) de nossa mandatária-mor que sempre anuncia planos que não se concretizam, coisa do tipo PAC 37, a vingança.

Sds, Rubro-Negras, saludos Cordiales e, apesar da muralhaé, seguimos no G4.

Filba

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