A crise no Bahia provocou uma reação que os torcedores dos dois maiores
rivais do futebol baiano desconheciam: solidariedade. O Movimento Somos
Mais Vitória (MSMV), dos torcedores do rubro-negro, divulgou nota em
que se solidariza com o movimento organizado pela torcida do Bahia por
democracia no clube. Confira a nota:
"Um convite à luta pela democratização do futebol
Em 2006, quando o Vitória voltou ao fundo do poço, à terceira divisão
do campeonato nacional, possuía o elenco mais caro da Série B e uma das
melhores divisões de base do país. Decerto, além de inesperado, foi
também o resultado da arrogância daqueles que preferiram ser poucos ao
não dar ouvidos aos demais.
Porém, àquela época, mais que uma estrutura, o Vitória possuía
oposição. Uma oposição, é verdade, que também não vinha das
arquibancadas, que era um grupo restrito, formado pelas mesmas famílias
que eternamente se revezavam no poder do clube, mas que naquele momento
foi fundamental para esboçar uma mudança.
Entretanto, e mais importante do que os tais que se revezavam no poder
(acrescentando, diga-se, muito pouco àquilo que podíamos conquistar em
campo e fora dele), a torcida do Vitória começou a se organizar. Uma
torcida que tem fama de "corneteira" por ser crítica em demasia, estava
somando às vaias, muitas vezes merecidas, a disposição para fazer mais
pelo seu time, não apenas ficar ligando pras rádios, chorando.
Não era um movimento de "figurões". A eles não se somaram políticos,
artistas ou outras celebridades. Ao contrário: pessoas simples, muitas
sem nenhuma experiência de organização política, juntaram-se para
dedicar um pouco do seu tempo à pratica da democracia, levando-a ao seu
clube de coração. Entre erros e acertos, muitas brigas e contradições,
com jovens e velhos, mulheres e homens, da capital e do interior, surgiu
o Movimento Somos Mais Vitória, que mesmo sem espaço em nenhum meio de
comunicação, se tornou um dos principais e, nos nossos melhores dias, o
mais forte movimento social vindo das arquibancadas neste país.
É claro que muitos sequer nos conhecem ainda. Alguns destes,
infelizmente, até são torcedores do Leão. Outros ainda não entendem o
que queremos e há até os que acham que atrapalhamos mais do que
ajudamos. E tudo isso só nos mostra que há muito a ser feito. Porém, a
verdade é que, se hoje a atual diretoria do Vitória montou um time
razoável (nos limites que a desigualdade crescente do futebol brasileiro
permite), é porque há não só uma oposição, e sim várias, e pelo menos
uma delas vem das arquibancadas, com poder real de decidir os rumos das
eleições que se aproximam.
Foi o terror que os atuais dirigentes do Vitória têm da democracia (que
nada mais é do que a operacionalização da vontade da maioria) e também
de perder a "boquinha", que os empurraram para a profissionalização,
após anos de vergonhas. Mas isto ainda é pouco. Nos mantivemos nas
arquibancadas, porém, e mais do que isto, nos mantivemos sócios, e
queiram eles ou não, votaremos nas eleições que se aproximam.
Óbvio que as recentes goleados aplicadas no rival nos enche de orgulho e
de esperança de dias melhores. Porém não houve torcedor rubro-negro que
não saísse da Fonte Nova sem reclamar também das deficiências do
próprio time. Outros tantos, após as comemorações, já retornaram ao
trabalho em busca da democratização do clube. E não vamos parar por
nada! Na derrota ou no triunfo, continuaremos criticando, propondo e
exigindo.
Entretanto, nesta ainda curta, porém rica, jornada, o MSMV percebeu
que, sozinho, ou mesmo aliado a todos os torcedores do Leão, ainda
seremos poucos. A desigualdade do futebol brasileiro hoje é absurda e a
estrutura que sustenta tudo isso é tão coesa e suja, que um clube
democrático numa ilha de autoritarismo estará fadado ao fracasso.
É por este motivo que o Movimento Somos Mais Vitória entende ser
necessário que as torcidas de futebol, em especial a torcida do Esporte
Clube Bahia, se juntem a nós neste caminhada, ao tempo em que se
solidariza com os torcedores do time rival, neste momento grave por que
passa aquela agremiação. Que se criem movimentos, que se exijam reformas
em estatutos e, definitivamente, que não esperem mais por novos
déspotas esclarecidos. Neste momento, não importa as cores de cada
camisa, os nossos futuros estão unidos. E nós podemos ser o futuro."
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