Há três meses, um grupo de entidades representativas dos arquitetos pediu o tombamento do estádio no Ipac e também no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A solicitação foi indeferida nos dois níveis: estadual e nacional. Atualmente, só o que pode impedir – ou, pelo menos, atrasar - a demolição do estádio é um processo administrativo instaurado pelo MPF na Bahia para apurar possíveis danos ao patrimônio histórico decorrentes da demolição. O processo tramita desde julho e ainda não foi ajuizado.
Com capacidade inicial para 35 mil torcedores, a Fonte Nova foi inaugurada em 1951, último ano do governo Octávio Mangabeira. À época, Salvador tinha 350 mil habitantes. De lá para cá, a capital baiana se tornou a terceira metrópole do País e a Fonte se consolidou como parte da vida dos baianos.
Idéia inicial abortada
A idéia inicial de aproveitar parte da estrutura do anel inferior da Fonte Nova teve de ser revista, já que a Fifa sugeriu a retirada da pista de atletismo ao redor do gramado. A proposta – quase uma imposição – foi aceita pelo comitê baiano, que também decidiu reduzir a capacidade do estádio de 60 mil para 50 mil pessoas.
Sem muito alarde, foi anunciada, há alguns meses, a demolição completa da Fonte Nova, o que vai totalmente de encontro ao que defende os representantes da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, do Instituto de Arquitetos do Brasil – Seção Bahia (IABBA) e do Grupo Internacional para Documentação e Conservação da Arquitetura e do Urbanismo do Movimento Moderno (Docomomo).
Os argumentos do Ipac
No dia 10/8, o Ipac encaminhou ao Ministério Público Federal parecer sobre o tombamento da Fonte Nova. O principal argumento do órgão foi que o estádio teria sido modificado no seu projeto original. “Inexiste fundamento apto a ensejar”.
O tombamento do Complexo Esportivo da Fonte Nova, notadamente diante do fato de que o projeto original, do arquiteto Diógenes Rebouças, foi alterado, implicando no comprometimento do seu mérito”, diz o documento. Ainda consta no parecer que “a inutilização do equipamento configurou-se como única hipótese apta a, de acordo com critérios técnicos e objetivos, atender às exigências do Caderno de Encargos da Fifa, de modo a garantir a eleição da cidade de Salvador como uma das subsedes da Copa
‘A justificativa não é fundamentada’
O presidente do Instituto dos Arquitetos, Paulo Ormindo, defende o tombamento da Fonte Nova. “É um complexo esportivo que está inserido na história do esporte baiano, que atende a várias modalidades e está rodeado por três bens tombados: o Dique do Tororó, o Colégio Anfrísia Santiago e o Convento do Desterro. Isso sem contar com seu valor arquitetônico, já que o estádio foi feito em formato de ferradura por Diógenes Rebouças”, afirmou
Ormindo ainda questionou o impacto ambiental, os custos do Estado com a construção do novo estádio – avaliado em R$ 550 milhões – e criticou a decisão do Ipac. “A justificativa não é muito fundamentada. Alterar um monumento é uma exigência do tempo, e, no caso da Fonte Nova, a alteração foi feita pelo mesmo arquiteto que o projetou”, argumenta. Matéria de autoria/foto de Raphael Carneiro e Larissa Oliveira do Jornal da Metrópole
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