domingo, 6 de dezembro de 2009

Que nos sirva de exemplo

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"O torcedor do Vitória, que já mostrou evolução quantitativa, precisa também avançar qualitativamente"

Ouvi recentemente de um mineiro, colega de trabalho, que finalmente a torcida do Fluminense carioca aprendeu a torcer. O papo começou quando um tricolor chegou cabisbaixo em nossa sala depois que seu time perdeu mais uma final pra equatoriana LDU, mas, o que se viu nas arquibancadas, foi digno de aplauso.

E a torcida do Fluminense realmente vem demonstrando muito brio neste final de ano. Há muitas rodadas, pelo Brasileirão, lota o Maracanã e empurra o time para finalmente sair da zona de rebaixamento, o que aconteceu na última semana, depois de muitos jogos sem derrota. Estádio cheio, gritos de incentivo (apenas) do início ao fim, demonstrações de amor pelo clube.

Foi incrível ver um time com quase 100% de chances de cair para a Série B chegar à última rodada com apenas 22%, segundo o site Chance de Gol. Nunca tinha visto uma união tão grande entre os jogadores de um grupo, a torcida e o clube. As palavras de meu amigo mineiro – que torce pro Atlético (MG) e, por isso, entende muito bem de torcida boa – realmente fazem sentido.

Como morei no Rio de Janeiro em 1992 e acompanhei de perto as torcidas locais, nos estádios e nos bate-papos de rua, vejo o quanto a torcida pó de arroz ficou mais valente. Sempre foi muito burguesa, mais acomodada e comportada em relação às outras três, mesmo com uma estável boa média de público. Este ano mostrou muita raça nas arquibancadas. Foi um exemplo.

Vulneráveis

Enumerei isso tudo para chegar à nossa realidade. A torcida rubro-negra tem um bom parâmetro para se guiar. É inegável que a torcida do Vitória cresceu e amadureceu nos últimos anos, guardadas as devidas proporções. Vem aumentando a média de público gradativamente e sendo mais ativa nos bastidores, seja por meio de veículos independentes de comunicação ou organizações que atuam também independentemente em benefício do clube. Mas acho que ainda somos muito vulneráveis aos resultados em campo e à influência da mídia local, carente de qualidade na informação.

Já fomos mais fiéis até os anos 80. Mesmo com péssimos resultados em campo, éramos muito presentes. Aí veio a era PC, com inegável melhora nos resultados, estrutura e conquistas de títulos. A torcida cresceu em quantidade, mas acabou mal acostumada a vencer demais localmente. Após algumas sequências de maus resultados, o torcedor se mostra logo pedante e impaciente. Chegou a vaiar a conquista do primeiro tri baiano, diante do rival, no Barradão, simplesmente porque perdeu o jogo final. Que diferença da festa dos equatorianos no Maracanã após conquistarem o título da Sulamericana perdendo pro Fluminense por 3 a 0, hein?

Por isso o torcedor do Vitória, que já mostrou evolução quantitativa, precisa também avançar qualitativamente. Mostrar amor e paixão pelo seu clube também nos períodos difíceis e não apenas nos bons momentos. Buscar se informar mais sobre seu clube sem ser refém de uma mídia de qualidade duvidosa. Tudo bem que o baixo nível de escolaridade influencia muito na força que um “Bocão” da vida tem sobre a opinião de um torcedor, mas, juntos, nos ajudamos a criar um campo de força contra essas forças de fora. Afinal somos uma grande família que se une e homogeiniza nas arquibancadas.

Trabalho de mão dupla

Digo família porque nem sempre família é um conjunto de pessoas que bate ponto em casa ou em eventos sociais. Uma família é formada por quem demonstra sentimento sem esperar nada em troca. É quem nos faz o bem. Se você se sente assim sendo rubro-negro, o convido para buscar nosso amadurecimento. Seja na presença em número, na maneira como torcemos ou no modo como analisamos criticamente o produto midiático que nos chega aos ouvidos e olhos.

Claro que não é um trabalho de mão única. É preciso que o clube se identifique com este projeto. Se a torcida do Fluminense não tivesse percebido a união do lado de dentro dos muros das Laranjeiras, poderia ter tido uma recaída. E aí está a função da direção do clube, comissão técnica e jogadores: demonstrarem compromisso para, assim, potencializar a resposta nas arquibancadas (o que faltou muito ao Leão neste meio de Brasileirão pra frente). O descaso dos últimos jogos foi de dar raiva.

E que a torcida do Fluminense sirva de exemplo, mesmo sem eu saber o desfecho do rebaixamento neste momento em que escrevo. Vamos lá, torcida do Vitória. Temos muita força e muito potencial para ser melhores que eles em alguns anos. Tivemos um excelente lampejo na Série B de 2007. Naquele momento fomos outro exemplo de torcida unida, atuante e presente. Ou seja, temos um bom parâmetro fora e dentro de casa para crescermos.

Francisco Ribeiro
Jornalista e editor da Revista Eletrônica Barradão On Line.
E-mail: fanque@yahoo.com

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