quarta-feira, 11 de março de 2009

Estádio de Pituaçu provoca rivalidade à milanesa

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Pituaçu, identificado com o Bahia, será chamado por seu nome original durante a estadia do Vitória, que tem o seu Barradão em período de reformas. Situação lembra divisão de estádio entre rivais Inter e Milan

Quase dois meses depois da reinauguração, o estádio Governador Roberto Santos recebe pela primeira vez um jogo do Vitória, nesta quarta-feira, 11, em partida válida pela 14ª rodada do Campeonato Baiano, contra o Madre de Deus.

Pituaçu, como é mais conhecido, é um nome impronunciável para a diretoria do time rubro-negro pela estreita identificação com os rivais tricolores, que gostam de chamar a praça esportiva de "Pituaço", uma referência ao apelido do Bahia, Esquadrão de Aço.

"Vem sempre à minha cabeça uma homenagem ao ex-governador. Se usamos o nome correto é porque não temos intimidade para chamá-lo pelo apelido", ironizou o vice de futebol do Vitória, Jorge Sampaio.

A situação de Salvador lembra a de Milão, onde cada um batiza o mesmo lugar com o nome que melhor lhe convém: San Siro para o Milan, Giuseppe Meazza para a Inter (em menção ao ex-jogador da seleção italiana da década de 30). Mas a rivalidade da dupla Ba-Vi em torno do renovado estádio - ampliado e reformado para suprir a ausência da interditada Fonte Nova - não se encerra em seus contornos estritamente "milaneses", por assim dizer. O estádio municipal que abriga jogos de Milan e Inter é conhecido como San Siro, mas foi batizado de Giuseppe Meazza em 1980, após uma reforma.

Meazza foi um ídolo do futebol italiano na década de 30, campeão em duas Copas. Jogou nos dois times da cidade, mas teve maior identificação com a Inter. Por isso, torcida e direção do Milan preferem evitar a menção ao jogador do passado para se referir ao estádio onde o time atua.

O estádio, inaugurado em 1926, passou a receber jogos da Inter apenas em 1947. Antes, tinha apenas o Milan como mandante

Oficialmente, o Vitória jogará em Pituaçu, ou melhor, no Roberto Santos, porque o Barradão passa por uma reforma que adaptará suas catracas ao novo sistema informatizado de bilhetagem, em fase de implantação. Mas para os tricolores, tudo não passa de um pretexto para reconhecer o gramado do palco do próximo Ba-Vi, programado para o dia 22.

Com capacidade reduzida a 20 mil espectadores nos seis jogos realizados até aqui pelo Bahia, o Roberto Santos terá a totalidade de seus exatos 32.157 lugares liberada a partir deste domingo. Teoricamente, a chance perfeita para o Vitória quebrar, contra o Ipitanga, o novo recorde de público do estádio, que é de 19.435 pagantes, estabelecido na partida Bahia 4 x 1 Feirense.

"Eu posso me arriscar a dizer que isso é impossível. Com todo o respeito que tenho à torcida do Vitória, não vejo como ela pode bater esse recorde", declarou o presidente do Bahia, Marcelo Guimarães Filho. "Se isso acontecer vai ser a prova de que é preciso melhorar muito o acesso ao Barradão, que é horrível. Para jogar uma partida lá às 17h temos de sair da concentração às 14h e só conseguimos voltar às 23h", reclama.

"Também não acredito [em recorde]", concorda Sampaio. "Nossa previsão é de um público de 12 mil pagantes no primeiro jogo e de 15 a 20 mil no segundo", calcula o dirigente rubro-negro, que manterá o ingresso de arquibancada a R$ 15, contra R$ 20 praticado pelo rival, e entrada livre para crianças de até 12 anos, contra 5 anos nos jogos do Bahia.

Mesmo assim a previsão de Sampaio é otimista para a atual realidade do Vitória, que em seis jogos como mandante só conseguiu colocar mais de 8 mil testemunhas no Barradão no Ba-Vi do dia 8 de fevereiro. Na ocasião, 35 mil torcedores estabeleceram o recorde de público do Baianão, um recorde que não pode ser batido, já que esta é a capacidade máxima do maior estádio baiano da atualidade.

Segunda casa

O primeiro Ba-Vi do ano registrou cenas lamentáveis nas arquibancadas, com mais de 30 feridos em um tumulto que levou o procurador do Tribunal de Justiça Desportiva da Bahia, Milton Jordão, a suspeitar de superlotação no estádio.

Na ocasião, a diretoria do Vitória acusou os torcedores do Bahia de destruírem um dos banheiros do estádio. A situação preocupa alguns funcionários da Sudesb, que temem uma retaliação de rubro-negros nos jogos desta quarta e domingo.

Raimundo Nonato Bobô, superintendente do órgão responsável pela administração do estádio, descartou a necessidade de reforçar a segurança. "Eu não acredito que a torcida do Vitória vá para Pituaçu com essa intenção, até porque as manifestações que temos recebido tanto do Bahia quanto do Vitória são de carinho e agradecimento", discursou.

"Não acredito porque aquele é um patrimônio público, porque o que aconteceu no Barradão não tem relação nenhuma com Pituaçu, e porque o maior prejudicado será o próprio Vitória, que assina um termo se responsabilizando pelo ressarcimento de qualquer dano provocado por sua torcida", alertou.

O vice de futebol do Vitória tratou do assunto com a habitual ironia. "De jeito nenhum, o estádio Roberto Santos é a nossa segunda casa e não vamos destruí-la. Somos um dos poucos times do mundo que têm duas casas para jogar. E estamos aguardando a remodelação da Fonte Nova para ser a nossa terceira casa".

Guimarães Filho, entretanto, acena com uma solução em que dá a entender que cada um tem a sua casa. "Para controlar a violência e o vandalismo eu sou favorável que o Ba-Vi só tenha torcedor do Vitória no Barradão e torcedor do Bahia em Pituaçu. Não para sempre, mas pelo menos por enquanto, para dar um freio de arrumação". Aurelio Nunes e Marcos Valença, especial para o Pelé.Net

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